Omar Talih


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sexta-feira, 7 de maio de 2010

A MORTE de meu sOgro!

Todos temos uma hora para partir. Para a chegada, houve um preparo e espera por algum tempo, assim, havia quase tudo que se fazia necessário à disposição. Com a partida é diferente. Ninguém se prepara, embora, muitas vezes sejamos avisados com muita antecedencia. A doença incurável, a idade avançada, são sinais claros de que estamos próximos do momento de encerrarmos as atividades e desocupar o lugar para o qual fomos convocados. Já cumprimos nossa missão. Hora de ir. Naturalmente, durante nossa estada por estas paragens, criamos vínculos, amizades e desejos de uma eterna presença, imortalidade. Como não o somos, criamos ilusões de vida eterna para a alma e reencarnação de alguma forma, lugar e corpo diferentes.
Pessoas passam pela vida da gente e deixam marcas, nem sempre agradáveis e quando se vão, não nos faz sentir saudades ou desejos de mais alguns anos de vida.


Foi assim com meu sOgro.
Quando o conheci, já estava "quase" casado e o pedido foi apenas para não ofender famílias, pois há 26 anos os costumes eram outros. Sei que de início, embora aceito no seio familiar, não era exatamente o que eles, meus sOgros desejavam para a sua filha. Mas não havia retorno, a neta deles estava a caminho e nasceu "prematura" cinco meses após o casamento. Saudável e bela depois de nove meses de gestação.

Embora, para mim, a vida seja uma grande festa e nós somos os convidados de honra, um dia seremos convidados a nos retirar para o descanso eterno. A vida foi boa, naturalmente com todos os tropeços que são normais num relacionamento, afinal, trazia comigo costumes diferentes e muitas vezes conflitantes com os habituais daquela casa. Na verdade, creio que os sOgros não gostavam de nenhum dos genros. Eles, genros, não correspondiam com as expectativas de riqueza e cultura almejadas, mais riqueza que cultura, afinal conhecemos muitas pessoas cultas, sem um vintém, sem eira nem beira. E o tempo passou para todos.
Percebi que, muitas vezes os sOgros podem e são muito mais perversos que as sOgras. As atitudes deles são sutís, dissimuladas mas muito ferinas. Mas, o tempo deu sinais de que a hora estava chegando e a doenças se fez mais forte. Oitenta anos. É uma boa idade para se morrer. Ele também já estava cansado, queria e merecia o justo descanso. Após alguns meses, internação e a certeza que não voltaria para casa, nem para o velório que, diferente de outros tempos, já não se fazia em casa.
Desentendimentos, falsidade exacerbada, fingimentos e choros que não sabíamos se era de crocodilos ou lágrimas forçadas.

 Durante uma semana, revezavam-se as carpideiras, derramando lágrimas e pedidos aflitos para que ele, em seu leito de morte, falasse com elas. Imploravam para que lhes pedisse qualquer coisa, dissesse uma só palavra para seu consolo. Talvez elas estivessem tentando se redimir dos anos de esquecimento e pagariam qualquer preço para purgar seus remorsos. Mas, o orgulho estava lá, oculto nas atitudes de irmãos que não se falam, que saem por uma porta quando um entra pela outra. Hipócritas que como urubus na carniça, se apossam dos parcos bens deixados de herança. Foi uma semana difícil e com o enterro do velho, quase que enterro também meu casamento. Mas isto já é uma outra história.

2 comentários:

  1. Omar,gostei do texto,real e verdadeiro.Bom quando conseguimos expor nossa alma de forma simples e objetiva.Bom fim de semana,se for para chorar que seja de alegria srsr.beijoss com carinho.Lia...

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  2. Forte o texto... as pessoas tem costumes diferentes. Às vezes temos que aprender a conviver..

    bjos

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