Omar Talih


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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Nem sempre o incêndio é ruim.

As eleições no Brasil me levam a refletir sobre os fatos e o represamento de sentimentos que explodiram em atos de violência país a fora. A primeira vista nos assusta, pois sempre tivemos a imagem de povo "amável", cordial e que se respeita mutuamente. Era um engano que a muito se mostrava apenas um "mito" e se confirmou neste ano.
Muitos compararam o eleito presidente com Hitler e o chamaram de fascista, uma clara relação com Mussolini na Itália. Mas analisando melhor e com a paciência que isto requer, não podemos compará-lo com os acima citados. Aqueles tiveram uma história e atuação política completamente diferente deste que nos assombra. Adolf Hitler lutou na 1ª guerra e realizou a 2ª a partir de tudo que fez e que não cabe analise aqui, o mesmo se dá com Mussolini e seus camisas pretas que aterrorizaram a Itália.
Vejo os fatos no Brasil como um grande incêndio que despertou um lobo adormecido há 28 anos.
Nós vivenciamos muitos períodos conturbados e sempre que houve revoltas e enfrentamentos, grandes mudanças vieram juntas e houve avanços. O mesmo aconteceu quando aqueles que dominavam, conseguiam "apagar o incêndio", não surgiam outras espécies novas, ou seja, as ideias não se renovavam. Por isso a escravidão durou mais de 3 séculos e os libertos ainda não se sentem livres ou com direitos e oportunidades. Evidentemente que houve revoltas em todo esse período, mas foram sufocadas e os resultados demoraram muito a aparecer, sendo muito mais forte quando as elites se sentiram agredidas em seus privilégios. Só neste momento, tiraram a monarquia e instalaram a república. A partir daí, os movimentos ganharam mais força e os resultados desejados eram alcançados mais rapidamente, e mantidos por mais tempo, moldando uma sociedade menos injusta e com mais garantias para o cidadão comum.
Os acontecimentos não deixavam espaço para acomodações. Não havia tempo para ver a grama crescer, tinha se que mudar e mudar novamente. Isto fazia com que as ideias se espalhassem.
No Brasil pós 64, houve uma acomodação geral. Os que lutaram pelo restabelecimento da Democracia estavam cansados e os herdeiros pouco sabiam o que fazer com ela, perdendo o valor com as novas gerações e por fim sendo jogada no lixo e festejada sua perda.
Como todo incêndio, o primeiro sentimento é de desespero e tentativas vãs de apaga-lo ou controlar os estragos, enquanto aqueles que ajudaram a colocar fogo na mata, garantem que continue aceso.
O último que tivemos durou 20 anos e deixou profundas cicatrizes. Este apenas começou e se mostra violento, com muito combustível e de difícil extinção.
Agora é hora de olhar friamente para o fogo e proteger-se de suas labaredas, sabendo que a exposição a ele causará profundas queimaduras e com certeza cicatrizes que levaremos por gerações.
Entretanto, devemos ficar atentos as oportunidades que surgirão e as aproveitarmos para sobreviver ao desastre e sairmos melhores no final da tragédia que com certeza um dia acabará.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Minha vida sem deuses

Desde a infância os deuses e seus demônios me perturbam e vivi parte de minha vida em conflito com eles. Quando ouvi pela primeira vez o nome "espírito santo" e me disseram que era uma pomba, hoje sei que é um pombo, não há fêmeas na trindade, pensei; "Que coisa idiota" e desde então começou a guerra. Todo tipo de ameaças, castigos e certeza de fogo eterno no inferno, me foram feitas. Naturalmente nunca disse a ninguém que isto me afligia. Então quando as coisas ficavam ruins e não foram poucas vezes, sempre pensava que o tal 'espírito pombo santo' estava me castigando por acha-lo idiota, bobo, e sem sentido. E, as dúvidas cresciam cada vez que havia um velório de criança. Eram muitos. Tantos que não consigo mencionar. Pelo menos dois por semana. Eu me perguntava por quê?. Se havia um deus tão poderoso, por que as crianças morriam daquela forma? Ficou gravado na memória e só terminará quando eu não mais existir. E os adultos? Vinte e cinco anos era o auge e aos 40 anos já era velho, não chegando muitos aos 50. Raros eram os que passavam dos 60 anos. Via miséria, fome e uma semi- escravidão e não entendia o pecado que as pessoas haviam cometido para serem tão castigadas. Nas vezes que fui à igreja, não conseguia ver sentido naquilo. Senta, levanta, canta mantras e rezas e uma pessoa fantasiada lá na frente falando de uma época distante, sobre um lugar que não fazia ideia de onde era, de profetas, milagres, castigos e recompensas se fizessem isso e aquilo. No mundo real, acabara a 2ª Guerra Mundial à pouco, então houve a Coréia e minha infância estava no Viet-Nan, Yom kipur, (dia do perdão?) a guerra dos 6 dias, no golpe militar e na miséria e morte que aumentava da mesma forma que as dúvidas. Mas não tinha como fugir. Me sentia preso num poço de piche, areia movediça, que me sufocava a medida que tentava me livrar daquilo: Religião. Senti o racismo na escola, discriminação, agressões físicas e obrigação de "rezar" antes de começar a aula. Era contraditório a mesma pessoa que falava de amor e bondade de deus, destilar tanto ódio. Não me lembro de um ano que não estivéssemos em guerra. Os meios de matar evoluíam de maneira assustadora. Entra um papa, visita países, multidões se acotovelam, acendem velas e... nada muda. Onde estaria esse deus que 'ama' sua criação? Silêncio. Mas seus mensageiros auto nomeados "representantes dos deuses" interferem na minha vida, na vida das pessoas, na política, na ciência e nos mantém na idade das trevas. "O homem quer ser deus", isto é uma ofensa, diziam eles. Impedem pesquisas, amaldiçoam cientistas pois não os podem queimar, sub julgam as mulheres, controlam seu corpo, sua vida e as mantém submissas, incriminando-as, prendendo-as, matando-as se desobedecerem e não fizerem como manda a religião; todas elas. Então, onde está esse deus? Talvez fazendo guerra com tantos outros deuses que existem mundo a fora, matando seus seguidores numa "guerra suja a que chamam santa". Não preciso de deuses, continuo acreditando que é "idiota um pombo santo" e mais ainda ver pessoas se matando em nome de allah, deus, krishna ou seja lá o nome que derem.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Por quê?

As vezes me pego pensando sobre a vida, suas agruras e o quanto somos enganados e mantidos na ignorância, medo e esperança de algo que virá, quem sabe após a morte, em um suposto paraíso, se você merecer. 
Há sempre uma "espada" sobre sua consciência e muitos dedos apontados com uma selvageria assustadora.
Criam-se deuses e demônios e seus anjos bons ou maus e sem darmos conta, servimos a ambos na mesma proporção. Deus e o Diabo são a face de uma moeda em que nós somos o verso.
Somos tão insignificante que nos fazem um jogo de ameaças e castigos, mantendo-nos escravos de crenças que mantém o privilégio de quem os tem e sufoca aqueles que buscam liberdade.
Pregam-nos em uma cruz que só existe em nosso imaginário e nos culpam por pecados que jamais cometemos. "Se você não crê, deus o castigará tão severamente e o enviará para o fogo eterno à serviço do diabo". E nos aparece o tinhoso sorridente como carrasco divino, numa confusão sem precedentes e explicações, confundindo-nos se são inimigos como querem nos fazer crer.
E o tempo passa, a vida se esvai, novos métodos de nos manter na escravidão mental.
O mesmo sugar de energias, o explodir-se em nome das vontades divinas, o pregar de ideias escravizadoras que nos mantém miseráveis com a promessa de benesses futuras.

domingo, 22 de abril de 2018

O cão e a ponte

Depois de passar por uma situação que me deixou furioso e quase cometer uma besteira, pedi orientação aos orixás, para que mostrassem uma saída, uma maneira de enfrentar a situação que sei se repetirá.
Então,uma noite sonhei que estava numa estrada que se estreitava a medida que andava por ela, até terminar em um caminho fechado e um grande precipício. Para atravessá-lo, havia uma ponte estreita que mal cabia uma pessoa. Comecei a travessia e surgiu um cachorro muito bravo do lado oposto e começou a vir em meu encontro. Avancei com a intenção de fazê-lo voltar, mas ele continuou e no meio da ponte me atacou. Caí no precipício, acordando assustado e suado.
Na noite seguinte, repetiu-se o sonho e novamente o cão me atacou e me derrubou precipício abaixo. Fiquei intrigado com a repetição do sonho, mas na noite seguinte, quando cheguei próximo a ponte, havia uma velha na minha frente que começou a atravessar e de repente surge o cão do outro lado. A senhora virou-se e voltou, deixando o cachorro passar. Ao invés de voltar para a ponte, a mulher tomou outro caminho e passou para o outro lado.
Fiquei pensando por algum tempo e me dirigi à travessia, quando surgiu novo animal. Ora parecia muito raivoso,ora espumando e impedia-me de passar. Não sabia o que fazer. Pensei que deveria pegar um pedaço de pau e lutar com ele, matá-lo, tirá-lo do meu caminho. 
Comecei a procurar algo que pudesse usar como arma e deparei-me novamente com a velhinha que me olhava com ar de reprovação.
__ Você é estúpido ou o que? Não vai vencer este monstro. Se o matar, estará matando a si e outros ao seu redor!
__ O que faço então?
__ Simples. Mude o caminho, os horários, os hábitos. Sua raiva alimenta o monstro.
Virei-me e olhei para a ponte. Estava vazia. Respirei fundo e fui em direção a ela, surgiu o cão do outro lado. Olhei para trás e a velha havia sumido. O cão passou ao meu lado, olhou-me e seguiu.
Acordei pensativo e descobri que o sonho era uma resposta ao meu questionamento. Mudei.
O fato de não enfrentar a fera, não me faz um derrotado, pelo contrário.
Entendi que há momentos na vida que devemos deixar a besta passar ao largo, não enfrentar, mudar. É mais inteligente ter consciência e ser capaz de tomar novos caminhos.