Bodas de Prata

Há muitos anos, um amigo meu, se casou. Dizia-me que não entendia porque fizera aquilo. Foi algo quase sem pensar e então lá estava ele, casado.
Percebera que tinha entrado em uma estrada longa e sem volta, com desvios para outras. Poderia até abandonar aquela, mas os passos deixados ali ficariam marcados para sempre. Era, segundo ele, uma estrada em que seria necessário muita atenção. Havia buracos, desníveis e logo no início da jornada, percebera que seria preciso coragem para prosseguir até o fim; prometido ou desejado. Com o passar dos anos, outros vieram se juntar a ele e a sua companheira com quem havia começado a viagem. Muitos foram os tropeços. Houve momentos que parecia ter perdido o caminho, se desviado. O cansaço por vezes o abateu, quase levando-o a desistência. As exigências eram muitas. Fez promessas para encorajar seus acompanhantes, mas não cumpriu todas, era lhe impossível. Tinha que dividir pouco com muitos e sempre havia alguém insatisfeito.
Um dia, quando via o mato tomar conta da estrada, os buracos aumentarem assustadoramente e disposto a abandonar tudo, ouviu uma canção que dizia: "Para que procurar novos caminhos, quando é fácil consertar a velha estrada".
Passaram se os anos, consertou pontes, tapou buracos, roçou o mato. Mas sua luta parecia em vão. A estrada estreitou-se, a fadiga e o peso dos anos fizeram-se sentir.
Hoje há apenas um trilho, um caminho estreito, muitas vezes coberto pelo mato que cresceu. Há momentos em que se sente perdido. Seus acompanhantes, buscam agora seus próprios caminhos, suas estradas com todos os problemas que elas tem em seu leito.
Sua companheira, aprendeu a andar sem sua ajuda e prosseguir juntos em uma estrada onde cada passo é dado com dificuldade, pode, se quiser, pegar um atalho e buscar novos rumos.
Quanto a ele, meu amigo, sentou-se a beira do caminho e mostrou-me uma espécie de poema que fez para comemorar vinte e dois anos de viagem:

"... Pelo sexo prazeiroso e abundante,
Pela sensualidade e envolvimento.
Pelo dialogo sempre envolvente,
Apaixonado e fértil de idéias e ideais,
Pela amizade sincera, pela confiança e cumplicidade,
Pelo apoio moral,
Pela presença constante nos momentos de angustia,
Pelos segredos compartilhados,
Pelas cumplicidade nas fantasias,
Pelo amor sincero, pela dedicação nos momentos de dúvidas,
Pela parceria e pelos planos...
Por tudo isto que NÃO tivemos nesses vinte e dois anos....
O que dizer?
Vou buscar uma Coca Cola e já volto !?"

Outros tres anos se passaram, faz agora Vinte e Cinco. Bodas de Prata.
Olhando para trás, vê que muitos erros houveram. Faltou dialogo, planejamento, preparação para um tempo em que a estrada ficaria mais deserta, estreita e difícil de se caminhar por ela.
Não há remorsos, arrependimentos. A companhia que teve nesses anos aliviaram os fardos e ele, meu amigo, se sente feliz em vê-los desbravando seus caminhos e transpondo seus obstáculos. Sente-se orgulhoso de fazer parte desta história, de vê-los fortes, saudáveis, lindos.
Se valeu a pena? Sim, por eles faria a viagem novamente.
Quanto a bodas.... melhor não comemorar. O desejo de buscar aquela Coca, continua latente.