Tenho um amigo a quem preso muito, Sebastian. É difícil falar dele, pois é a face oposta de uma mesma moeda. Somos na verdade três amigos que dividem tudo; os conflitos, as incertezas, o desejo de liberdade e tudo que um faz os outros sabem. Nem sempre concordamos com as maneiras de pensar um do outro e quase sempre estamos em conflitos.
Esse amigo em questão, vive apaixonado, arriscando a vida para viver o que quer e como quer. As vezes sinto uma pontinha de inveja do seu jeito. Há algum tempo, ele conheceu uma garota e se encantou com ela, naturalmente o sentimento foi recíproco. Fizeram promessas que talvez nem pudessem cumprir, não por vontade deles, mas por implicações outras as quais eles não tem nenhum controle. Mesmo assim, trocaram cartas, mensagens e acabaram se envolvendo mais do que deveriam, menos do que queriam.
Havia algumas coisas que não poderiam acontecer. Houve antecedentes. Numa viagem que fizeram juntos, ela pareceu um pouco assustada e evitou que se tocassem, mesmo sabendo que não corria riscos. Na verdade ela sempre teve um pouco de medo e se sentiu invadida na sua segurança. Preferiu ficar nos limites. Recolheu-se e evitou por algum tempo qualquer contato.
Como sempre fazemos quando um de nós esta em apuros, nos reunimos e discutimos a situação.
Chegamos a conclusão que o melhor era ele, meu amigo Sebastian, voltar para sua terra natal e evitar maiores problemas. Ele concordou. Escreveu uma longa carta e despediu-se dela. Partiu sem vê-la. Sei que levou consigo uma saudade que não passaria tão facilmente. É claro que ela não aprovou. Escreveu para ele e entregou-me a carta, pois passei a ser o elo de ligação entre os dois. Confesso que não me senti bem sendo o pombo correio nessa história. Depois de muito lamento, reclamações, nos reunimos outra vez e a pedido dela, ele voltou. Parece que o pouco tempo que esteve fora, foi como um vulcão prestes a entrar em erupção... explodiu assim que chegou. Voltou com uma força devastadora e por pouco não destrui tudo que nos três construimos ao longo dos anos. Sabemos o quanto ele é impulsivo, sem medo de se ferir ou ferir quem esta a sua volta... não há medidas. É claro que o contivemos por longos anos e impedimos que fizesse certas coisas... não tudo, mas tentamos. Ele chegou, apossou-se de tudo que era nosso e quase nos sufocou aos três. Como um guerreiro que volta de uma batalha, estava sedento e quis beber tudo de um só gole... engasgou e por pouco não a matou sufocada também. Passaram se os dias e cada vez mais nós o víamos envolvido, apaixonado como sempre foi. Não tememos por ele, mas por talvez causar um grande mal em uma pessoa a quem aprendemos a amar e respeitar. Estamos novamente reunidos. Sabemos que ele deve voltar para sua terra ensolarada e ficar por lá até que novamente tenhamos o controle da situação. Embora concorde conosco, sabemos que ele prefere os riscos, as feridas provocadas por sentimentos que muitos não podem entender, ferir -se com ferro em brasa, doar-se de corpo e alma e abandonar tudo se preciso for para ver a pessoa que ama desde outras vidas segura e sem medos. Concordamos com ele que é preferível a dor de ter feito que o arrependimento de ter aprisionado os sentidos e desejos. Temos uma decisão a tomar... quem sabe partamos os três em busca das aventuras que sempre nos prometemos e que com certeza nos devemos... Nós merecemos... Nós podemos.