(imagem de jornal)
Durante muitos anos, corri para apagar o fogo que principiava. Eram horas de angustia. Depois gastava dias a remendar a lona. Meu circo mais parecia uma colcha de retalhos.
Toda noite, após o espetáculo, o medo de não ter agradado, de ter sido uma atuação ruim.
Nós, palhaços, estamos sempre sorrindo, fazendo caretas, arrancando gargalhadas. Algumas vezes somos palhaços, noutras nos fazemos assim.
Um dia, olhei do picadeiro e vi que havia muitos furos, outros tantos remendos, quase não se via lona.
A atração era sempre a mesma. Faltava variedade, era pouca a qualidade e havia cada vez mais espaço entre uma apresentação e outra.
Por mais esforço que se faça, a trupe busca novos ares, monta seu próprio circo.
Outra vez o circo pegou fogo. E como de costume corri a debela-lo. A medida que a chama diminuía, senti que aumentava a angustia. Parei.
Permiti que as labaredas ganhassem vida.
Poderia deletar, esconder cada item que sei, nessas horas se tornam inflamáveis. As chamas cresceram, dominaram e começaram a destruir coisas velhas.
Sentei-me ao largo e fiquei olhando, espectador de meu próprio ato.
Enquanto arde, lembro-me de certas sementes que só germinam após grande queimada. Sei que toda vez que impedimos a natureza de seguir seu curso, não a estamos ajudando. Não permitimos com nosso ato que a vida se renove.
Sei que muito se perde num incêndio. Que meus medos e segredos se farão descobertos. Que meu circo se queimou. Acabou a lona rota, se fez cinzas a arquibancada.
Desta feita, não haverá renovação. Isto implicaria em reaproveitar coisas velhas, mascarar o antigo com ares de moderno.
Desta vez Respirar uma Nova Ação. Mas o fogo ainda não apagou. Não desperdiçarei água limpa... deixarei para regar a nova vida que sei, brotará das cinzas.
Que medo desses palhaços
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